
Por outro lado, este convite à alegria também parece incompatível com o esforço de preparação que somos convidados a fazer. Bem ao contrário, a sua presença torna-se indispensável para dar ao nosso esforço a marca verdadeiramente cristã.
O grande desafio consiste em encontrarmos as verdadeiras fontes da alegria. Com efeito, elas não se encontram na ausência de problemas e dificuldades, nem na abundância de bens materiais, nem na quantidade de prendas que pensamos dar ou receber na próxima quadra natalícia. De facto, a alegria ou parte do presépio ou nunca será alegria nem duradoira, nem verdadeira!
Todas as outras alegrias são vazias ou vãs, porque lhes falta a força da ‘presença’. De facto, como afirma Bento XVI, o nosso Advento é presença e espera. A certeza de que o Salvador já está no meio de nós é condição indispensável para, no meio do pessimismo e descrença provocados pela presente situação mundial, conseguirmos divisar o sol que se mantém para além das densas nuvens negras que toldam o nosso horizonte. Só daqui pode resultar uma serenidade empenhada em continuar a apressar a “vinda gloriosa de Cristo, nosso Salvador”, endireitando os caminhos da nossa vida, numa palavra, deixando-nos guiar pelo Espírito do Senhor.
A verdadeira alegria vem-nos da certeza de sabemos que vale a pena, porque sabemos que não corremos em vão, nem ao acaso, pois “é fiel Aquele que nos chama. Ele cumprirá as suas promessas”.
Então, o caminho a ser por nós percorrido tem duas direcções, aparentemente opostas, mas que se implicam mutuamente:
- a da autenticidade, para nos reencontrarmos com a verdade sobre nós próprios. Neste sentido é verdadeiramente paradigmático o diálogo de João Baptista com os emissários dos fariseus: “não sou o Messias, nem sequer um dos Profetas. Sou apenas a voz que clama no deserto...”
- a dos irmãos. O caminho que nos leva até Deus, melhor: que traz Deus até nós, passa necessariamente pelos irmãos!
Sendo louvável que, nesta quadra natalícia, se multipliquem as iniciativas em favor dos mais desfavorecidos, a verdade é que os cristãos não podem deixar de ser utentes permanentes desta estrada, pois é no ir ao encontro dos outros que encontraremos a verdade profunda sobre nós próprios, que florirão os nossos desertos e a ‘voz’ do nosso testemunho adquirirá a credibilidade de João Baptista.
Para isso, quantos caminhos tortuosos a precisar de serem endireitados, quantas montanhas a serem arrasadas e quantos buracos a serem preenchidos! Mas, por maior e difícil que seja a empreitada, ela não nos assusta nem faz desanimar, porque estamos certos que “o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor diante de todas as nações”! Com efeito, “no meio de vós está quem vós desconheceis”.
Não se passará o mesmo nos nossos dias, não só com os outros, mas connosco próprios, por mais cristãos que nos digamos e nos sintamos? Não estará também vazio o nosso presépio? Perguntemo-nos, pois, com que águas alimentamos a nossa alegria e a nossa esperança?!
pe.castro@espiritanos.org
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